ah... posso chamar de 'liberdade poética' continuar usando o português que eu aprendi na escola? tenho apego com alguns hífens e acentos. :)

terça-feira, 10 de março de 2009

Contos de Nárnia I : Wear Sunscreen

Peripécias de Branca de Neve, nascida com pele de porcelana-antes-da-queima, num país tropical.
Some-se a isso uma pitada de vaidade feminina, e faça idéia das aventuras solares a que essa cútis sobreviveu em quase 30 (!) anos de exposição semi-responsável.

Férias de verão de 2000 e poucos, Quito - Ecuador/ Ilhas Galápagos
Exótico, não? pois bem...
Nem precisa ser um ás da geografia pra sacar que o Ecuador fica cravado na linha do Equador, onde os raios solares incidem com toda a sua fúria perpendicular.
Num passeio de índio por uma praça nos arredores de Quito, onde os "locais" expunham suas redes, trançados e casacos de lã de lhama, tudo o que adquiri foi um bronze-marca-de-alça-de-regata. O abominável zé-regatinha. For Christ sake! Suficiente pra arruinar o restante das férias. (sim, essas coisas me abalam!)
'Calma, em Galápagos vc resolve isso, vamos ficar num resort ma-rra-vi-lho-so!'
Tudo bem que nem Darwin sofreu tanto pra chegar até lá. Avião teco-teco, onibus das galinhas, barco, mais um busão, mais um barquinho (e as malas? jogadas com displicência de um lado pra outro. pânico.) mais uns 20 minutinhos a pé. Welcome to paradise!
Lá pelo terceiro dia de aventuranças por ilhotas com aves de patas azuis, iguanas e leões marinhos, abri mão da visita a George (a tartaruga-gigante amiga de Darwin falecida um dia desses) a fim de 'get even' com o meu bronzeado equatoriano. A-rá!
Tipico.
Protetor solar só na parte do zé-regatinha e naquelas que sempre queimam... a perna, abaixo do joelho nunca queima né? amadora!
Corta pra noite desse dia: Na escuridão do quarto, a sensação é de estar vertendo líquido ( sangue? água?) pela perna. Quando me levanto para ir ao banheiro, a impressão é de que a pele vai ceder, vai rasgar. Cara! Sério! Fui me arrastando feito uma iguana, para deleite tragicômico da minha irmã ( ela é daquele tipo que ri - muito - de desgraça, principalmente a minha). A cena era inacreditável.
Como desgraça não vem aos poucos nesses casos (principalmente pra gente ranzinza como eu ), o dia seguinte era o dia da epopéia de volta à capital, andaríamos ( andar??) 20 minutinhos, pegariamos barquinhos, onibus, barco, onibus...
Não sei como, eu descobri que se eu fizesse movimentos de passadas saltitantes uniformes, doía menos. Se eu parasse, era como se o sangue acumulasse na parte debaixo da perna e ela fosse explodir ( essa era a sensação. really! e naquele cafundó-do-judas não tinha ninguém que pudesse me salvar. eu ia voltar das férias amputada. I lost my legs in Galapagos!) Eu parecia uma autista-maluca, o grupo parava pra esperar o proximo 'veiculo' (podemos chamar assim?) e eu fica andando em circulos numa cadência ritmada. patética!
De volta a Quito, o lugar com ares atrasados que eu tenho mais antipatia no mundo, o nativo da farmácia se recusava a entender a gravidade da situação. La niña se queimó! Eu queria algo pra queimaduras sérias, tipo segundo, terceiro grau... e o índio me vem com aloe vera?!
(aprendi depois que tem que ser uma loção sem alcool - o alcool rouba a água da, já agonizante, pele - e, óbvio o aloe vera deles tinha alcool! hunf.)

Por pouco essas minhas agruras epiteliais ( nas fotos se nota o meu bronze-vermelho-malagueta) não me privaram de uma das experiências mais sublimes da minha vida: o mergulho (mergulhinho, vai.. que a gente ficou ali por perto do barco né irmã?)
Mas os cardumes e os leõs marinhos ( !) lá são destemidos, eles chegam bem pertinho. Essa foi minha única experiência do tipo, de olhos arregalados dentro daquela máscara, aprendendo a respirar com aquele aparato, eu só posso descrever como...morri e acordei no paraíso dos peixinhos coloridos. lhiiindo!

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PS.: Burro que é burro, animal de teta mesmo, não aprende com os próprios erros, certo?
Natal do ano seguinte, piscininha de plástico em Arujá. Solzinho razoável.
- Não vai passar protetor na perna? lembra do que acontenceu em Galápagos...
- Tô brincando aqui na piscininha, a perna tá dentro d'água, depois eu passo...
CORTA.
Irmã, aos risos, gargalhadas tendo que me servir o almoço de natal na cama, diante da expectativa de EXPLOSÃO da minha perna. AGAIN!
( foi aí que eu descobri que creme nívea é melhor que o aloe vera com alcool dos equatorianos... you live, you learn... sometimes, it takes a little...)

PS.2: a branca de neve em questão é leitora de revistas de beleza desde a mais tenra idade. nunca fez uso irresponsável de óleo de urucum, rayito de sol ou coisa que o valha.
É o que? Burra mêmo? tsc,tsc...

5 comentários:

  1. cara! esse post tá quase tão bom quanto ouvir o "causo" ao vivo... rindo muito...
    imaginando a irmã pointing laughing!

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  2. é como dizem sobre o café: "no (e)cuador é mais forte"

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  3. mélis, este post foi hilariante. tb imaginei vc contando a história. e me compadeci de sua dor de portadora de cutis procelana crua, já q eu tb sofro deste mesmo mal. e tenho algumas passagens desagradáveis com o sol... too many post (too few time to write)...

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  4. Hahaha, até eu que sou indio, uso protetor 50, tome!! Morri de rir.

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  5. Méliss, desculpa já chegar assim, comentando, mas eu precisava dizer 3 coisas: 1)Rachei de rir com esse post! 2)Por tabela, já virei fã da sua irmã! 3)Eu juro que adoraria ver, um dia, uma representação ao vivo do que sejam "passadas saltitantes uniformes"!!!

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